(…) Porque eu cheguei ao limite de ser “incomparável”. Não porque nisso me arrogue uma superioridade, que é idiota, mas porque o que sei agora ter sempre procurado só obliquamente se poderá parecer com o que realizaram os outros. Tal como se diz que um cavalo é incomparável com o pão-de-ló. Seja eu o cavalo e o pão-de-ló os outros. Não interessa. O que interessa é que me encontro agora sozinho comigo mesmo e sou eu que tenho de aguentar-me na minha navegação solitária. É um bem? Um mal? É um facto. (…)
O percurso de Vergílio Ferreira é tão original, a sua obra é de uma tal riqueza e profundidade, que não admira que ele se encontre agora sozinho comigo mesmo (…) na minha navegação solitária.
Só que talvez não sozinho, realmente, como admite umas linhas à frente:
(…) Ninguém fala a mesma língua, mesmo na mesma língua. A
que eu falo na que é de todos só alguns poucos a entendem. É o que basta para
não ser o louco que fala sozinho.
Sim, haverá alguns que não entendem. Ao contrário de muitos outros, eu incluído, creio. Para nossa tão única, tão frágil felicidade.
(de Conta-Corrente Nova Série II, 1 de Outubro de 1990, p.309, Bertrand Editora)
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